Caro amigo trabahador;
A participação dos trabalhadores nos lucros ou nos resultados das empresas (PLR) é um item presente na Constituição brasileira desde 1946. A PLR ganha força somente em meados dos anos 90, em função da política de combate à inflação brasileira, baseada no aprofundamento da abertura da economia e no barateamento das importações. Essas medidas trouxeram impactos sobre as empresas, forçando-as a reduzir os custos e aumentar a produtividade. Sabe-se que o setor industrial foi primeiramente atingido, mas o comércio e os serviços (o de transportes, por exemplo) também estão submetidos à lógica do aumento da competitividade.

A forma de apuração dessa participação é relativamente simples: define-se por exemplo, o lucro líquido do balanço, e negocia-se um percentual a título de participação nos lucros, são negociadas metas de produção.
O pagamento da PR fica vinculado ao cumprimento das metas, que, dependendo da negociação, podem ser de alcance muito difícil ou podem levar a um aumento do ritmo de trabalho, da jornada e da ocorrência de doenças profissionais e acidentes de trabalho.

- A negociação da PLR é de interesse das empresas pelos seguintes motivos:Flexibilização - A PLR permite uma adaptação das empresas às flutuações da economia: se o momento econômico é bom, os resultados (ou lucros) das empresas são melhores e dão lugar ao pagamento da PLR; se o momento não é bom e os resultados são ruins, a despesa com remuneração também diminui.Vinculação da remuneração ao desempenho - A PLR é uma maneira de estimular o aumento da produtividade e o envolvimento dos trabalhadores; através dela, as empresas buscam controlar com mais eficácia o ritmo e o processo de trabalho.
- Em resumo - e no caso específico dos transportes rodoviários -, os empresários buscam, de modo geral, atribuir ao programa de participação nos lucros ou resultados um papel disciplinador do comportamento da mão-de-obra, priorizando objetivos relacionados à consecução de padrões de trabalho com menor desgaste do equipamento, melhor qualidade no atendimento ao usuário e queda do absenteísmo.

- O movimento sindical tem demonstrado interesse na negociação da PLR por vários motivos, entre os quais se destacam:Obter informações - as informações sobre a empresa e o setor, sobre o processo de trabalho, índices de produtividade, entre outras, são indispensáveis à negociação de PLR e potencializam a ação sindical em geral.Propiciar condições para a organização dos trabalhadores dentro das empresas.Identificar rapidamente os interesses e necessidades da base.Negociar questões relativas ao processo de trabalho.Esses itens, necessários à realização de um bom acordo de PLR, abrem e ampliam oportunidades para a ação sindical. Mas a negociação de PLR também traz riscos para os sindicatos e trabalhadores. Os riscos e oportunidades podem ser vistos no quadro 1.Quadro 1 - Negociação de PLR: riscos e oportunidades para o Movimento Sindical
Principais oportunidades | Principais riscos |
Novos temas e maior abrangência para as negociações. | Incorporação, pelo trabalhador, da lógica da empresa. |
Possibilidade de novo patamar de negociações, colocado pelo acesso a informações. | Aumento do ritmo e da jornada de trabalho. |
Possibilidade de implantação ou fortalecimento da organização no local de trabalho. | Isolamento dos trabalhadores na "sua" empresa e reforço da lógica da negociação realizada apenas ao nível de empresa. |
Possibilidade de combinar negociações gerais com negociações por empresa. | Redução do recolhimento dos encargos sociais, com reflexos nos programas sociais e nos rendimentos da aposentadoria. |
Aumento da remuneração. | Focalização da discussão salarial e da produtividade só na remuneração variável. |
Flutuação nos níveis de rendimento do trabalho. |

- Não há um modelo único de negociação e acordo de PLR. Todo o processo deve levar em conta a especificidade de cada empresa e de cada setor de atividade.De qualquer forma, o primeiro aspecto a ser discutido é comum para a negociação de qualquer acordo de PLR que pretenda ser bem-sucedido: a busca de informações.É necessário buscar informações sobre:a medida provisória e outros instrumentos legais (Constituição, convenção coletiva de trabalho da categoria etc.);textos e estudos de análise sobre o tema;outras negociações e acordos, principalmente os de empresas semelhantes (como foi o processo, quais os indicadores escolhidos, os valores negociados);dados sobre a empresa: desempenho, possíveis indicadores, situação geral da empresa e sua estratégia empresarial;alternativas de acordo: formas de pagamento (igual para todos, proporcional ao salário ou misto; periodicidade; abrangência das metas...).

- De início, vale a pena reiterar que os acordos de participação nos lucros ou resultados são bastante variados, uma vez que obedecem a especificidades presentes em cada empresa ou setor. Algumas cláusulas, entretanto, apresentam-se como fundamentais, qualquer que seja a forma assumida pelo acordo, e referem-se aos seguintes conteúdos:- definição sobre o caráter da participação (nos lucros ou nos resultados?);- definição do valor-base a ser distribuído;- definição da forma de distribuição (valor fixo, valor proporcional ao salário, sistema misto);- definição dos indicadores e do sistema de pontuação (se necessário);- metas e critérios de aferição dos indicadores;- período para pagamento e período de validade do acordo;- critérios de habilitação (quem tem direito à PLR?);- acesso às informações (que deverá ser garantido no acordo);- regras de acompanhamento do acordo;- regras para renovação (data para renovação, procedimentos...);- outros itens que se apresentem como importantes, caso a caso.

- Os trabalhadores em transportes rodoviários encontram-se em situações, diversas, como transporte urbano de passageiros, transporte intermunicipal, interestadual, fretamentos.

- Para essa discussão, é interessante uma diferenciação entre programas de participação nos lucros e programas de participação nos resultados.a. Programas de Participação nos Resultados (PR): indicadores e cuidadosNo caso de negociações de participação nos resultados (PR) já em curso no setor, é possível enumerar uma série de indicadores que as empresas costumam propor. Alguns dos mais freqüentes são:- quilometragem rodada por veículo;- tonelagem (ou volume) de carga ou número de passageiros transportados por veículo;- quilometragem média entre acidentes - corresponde à quilometragem total rodada pela frota no mês, dividida pelo número de acidentes ocorridos;- quilometragem média entre socorros - corresponde à quilometragem total rodada pela frota no mês, dividida pelo número de socorros externos;- quilometragem média entre recolhidas anormais - corresponde à quilometragem total rodada no mês, dividida pelas recolhidas não programadas, por ocorrência de defeito ou acidente;- consumo específico de combustível - corresponde à quilometragem por litro;- multas de trânsito - corresponde ao valor ou à quantidade de multas pagas no ano em relação ao ano anterior;- índice de absenteísmo (faltas ao serviço) - este é um indicador que, a depender da sua definição, pode trazer sérios prejuízos aos trabalhadores, sempre que estimular a fiscalização de uns pelos outros ou que prejudicar trabalhadores que se ausentam por motivos legítimos: doença, acidentes, greves etc.;- reclamações do usuário - relativo ao número de reclamações em determinado período.Nessa hipótese, de negociação de resultados com base em metas, algumas questões adquirem vital importância. Dentre elas, destacam-se as seguintes:o percentual de aumento ou redução para cada meta deve ser negociado entre as partes. Para tanto, é fundamental, do ponto de vista do sindicato e dos trabalhadores, que se saiba qual percentual é possível ser alcançado, o que depende da situação de cada empresa. Daí a necessidade, como já foi dito, de serem obtidas informações detalhadas e suficientes. Exemplo: se a empresa já trabalha com um consumo de combustível que não é possível ser rebaixado, ou seja, se ela já é eficiente neste item em relação aos veículos que ela possui e ao seu itinerário, não adianta fixar a redução do consumo como uma meta.É de suma importância, ao negociar um indicador, obter a informação de como ele se comportou até agora. Voltando ao exemplo do combustível: para fixar meta de redução de consumo, é preciso saber o quanto se consome atualmente (se possível, obter a média de consumo dos últimos meses); caso contrário, se não se conhece a situação atual, fixar uma meta é como atirar no escuro...Pode-se estabelecer uma pontuação para cada indicador, de acordo com o peso (importância) de cada um deles; o alcance da pontuação máxima daria direito a um determinado valor a ser distribuído.O valor global a ser distribuído também é objeto de negociação entre as partes; também nesse caso fica clara a necessidade de serem obtidas informações da empresa para se saber qual a sua capacidade financeira.
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